Os dias andam
corridos e não tive tempo de homenagear meu avô Erno Lagemann, que faleceu na
última quarta-feira, 16 de junho. Vou publicar aqui no blog o texto do
colunista Marcos Caetano, que foi publicado na coluna do JB Online, no dia 26 de novembro de
2005, falando da gloriosa vitória do Grêmio sobre o Naútico, no estádio dos
Aflitos, que trouxe a equipe gaúcha a 1ª divisão. A coluna homenageia também o
velho Lagemann, por ser um ilustre torcedor do tricolor
gaúcho.
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O velho
Lagemann
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Eu preciso confessar
que torci muito para o desfecho do Campeonato Brasileiro da primeira divisão
ficasse para o próximo final de semana. Não que eu tenha alguma coisa contra o
Corinthians, apesar da sucessão de incidentes de arbitragem que favoreceram o
clube paulista ao longo da disputa, mas é que eu precisava muito ter o espaço
inteiro de uma coluna para escrever mais sobre a extraordinária conquista do
Grêmio, na segunda divisão. Sem gastar mais uma palavra sequer com assuntos
menores, passemos, portanto, à epopéia do Tricolor Gaúcho no estádio dos
Aflitos.
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Antes de mais nada,
lanço um desafio aos pesquisadores profissionais e amadores: duvifo que em toda
a história do futebol alguma equipe tenha conseguido a façanha de ganhar uma
partida com menos qautro jogadores em campo. Se, por acaso, algum rábula
descobrir que num obscuro campeonato de uma obscura república caribenha tal fato
tenha se repetido, aumentarei minha aposta: duvido que algum time tenha vencido
uma partida com sete jogadores contra onze, com o gol da vitória obtido
justamente no momento de maior desvantagem numérica. Da mesma forma, se algum
habitante da Micronésia provar que em jogo pela quinta divisão da menor de suas
ilhas, lá pelos idos dos anos 30, semelhante milagre haja sido perpetrado,
aplicarei um xeque-mate: duvido que a impossível vitória tenha sido construída
após marcação de um pênalti contra o time em desvantagem numérica.
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A maior da
façanhas
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Podem procurar à
vontade - os mais modernos no Google, os tradicionalistas na Enciclopédia
Britânica ou no Real Gabinete Português de Leitura. Do alto da minha emoção com
a inenarrável conquista gremista, eu garanto: nunca no mundo do futebol
presenciou um prodígio como aquele que foi gravado em pedra, para sempre, pelos
sete heróis jogadores de camisa azul, preta e branca na calorosa cidade do
Recife, no último sábado. Quando Galatto, depois de 20 minutos de confusão,
defendeu o pênalti do Naútico e Anderson, o jovem craque gremista marcou aquele
gol agônico, meu pensamento voou. Mas precisamente para o interior do Rio Grande
do ul, onde vive o pai do meu grande amigo Rudi Lagemann, alcunhado Foguinho, um
gaúcho, gremista por devoção, botafoguanse por adoção, que mora na nossa Cidade
Maravilhosa.
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Jamais encontrei o
velho Lagemann, pai do meu amigo, do qual sei pouquíssima coisa além que é um
típico e severo gaúcho, com jeito de colono alemão, que está no outono da vida,
mas continua torcendo e sofrendo muito com o seu Grêmio de Foot-Ball Porto
Alegrense. Conheço tão pouco o Seu Lagemann que sequer sei seu primeiro nome.
Sobre o velho gaúcho tenho apenas mais uma informação: ano após ano, no Natal ou
na noite de aniversário, ele recebe do filho uma camisa do time amado. E foi
assim que, quando num balé hipnótico Anderson marcou o gol que deu ao Grêmio o
mais impossível dos títulos de sua história, eu me flagrei pensando no vovô dos
pampas. A camisa deste ano será guardada com enorme carinho por ele. Porque acho
difícil que outra conquista do Grêmio - com a possível exceção do Mundial
Interclubes, em Tóquio - despertará lembranças mais carinhosas num gremista
apaixonado do que essa que talvez tenha sido uma das mais singelas de sua
gloriosa história.
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Com um
sorriso nos lábios
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Não sei quantas
temporadas futebolísticas ainda serão acompanhadas pelo pai do meu amigo. Espero
que sejam muitas. Tantas quantas as glórias do futebol gaúcho. Mas, aconteça o
que acontecer, eu sei que naqueles momentos finais, quando a vida da gente -
como relatamos chegaram a colocar um pé no outro lado do mistério - passa um
filme em nossas cabeças, o velho Lagemann vai se recordar de três coisas muito
importantes. A primeira delas será o título mundial, construído com dribles
infernais e gols impossíveis de Renato. A segunda será, certamente, o gol de
Anderson, que não devolveu ao Grêmio, mas o Grêmio à grandeza. Grandeza que se
tornou pequena, quase acanhada, desde quando so gaúchos caíram no fim do ano
passado. A última lembrança do Seu Lagemann? Quem sou eu para ter a pretensão de
adivinhar coisas assim. Mas arrisco algo: pra min, a última e mais carinhosa
lembrança do velho Lagemann será a imagem do seu filho querido chegando, ano
após ano, com uma camisa do Grêmio novinha em folha para presenteá-lo. E, assim,
ele poderá partir com um doce sorriso nos lábios.
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"Tudo tem um início e,
tudo tem um fim." Erno Lagemann