quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Manacá - Um alívio para os ouvidos cansados.

Release:
Como o pequeno fruto arroxeado que lhe dá nome, resgatado da literatura de Ariano Suassuna e seu “Romance da Pedra do Reino”, o Manacá é produto de nossa terra. Goste-se ou não, há que se admitir, em nenhum outro lugar, que não o Brasil, poderia surgir banda igual.
Tal qual tropicalistas contemporâneos, a banda explica para confundir, e confunde para esclarecer, antropofagizando influências heterogêneas, em diálogos improváveis, que muitas vezes extrapolam o puramente musical, contrapondo Cordel do Fogo Encantado ao neo-progressivo americano do Mars Volta; Movimento Armorial a Led Zeppelin e Queen of Stone Age e Novos Baianos, dentro muitas outras combinações possíveis.
A letras não deixam por menos, e versam sobre temas pouco comuns, no árido cenário do pop/rock, tão diversos quanto as festas de reisado do Nordeste brasileiro e os movimentos sebastianistas no século XIX. As temáticas do Manacá são sólidas, como é a parede sonora que adiciona castanholas e viola tradicional à tradicional tríade baixo/guitarra/bateria. Em vez de alienar, acrescenta; não menospreza, faz pensar.
Fugindo da reverência passiva aos mestres em cuja a fonte não se furta em beber, o Manacá ousa, lança mão da saudável imprudência permitida à juventude (e somente a ela) e clama por lugar próprio na música brasileira. Se a realidade futura estará a altura de tamanha pretensão, vale o clichê: só o tempo poderá dizer. Mas já estava a hora de uma banda chamar para si a responsabilidade do novo. E a meteórica ascensão dá o que pensar: em parcos 365 dias de existência, deixou a Zona Norte do Rio de Janeiro para conquistar alguns palcos mais tradicionais da cidade (Teatro Odisséia, Circo Voador, Cine Íris) e de fora dela, coroando sua curta trajetória com uma elogiada apresentação no Festival Mada, no Rio Grande do Norte.
Seguindo um caminho que aponta para cima, o Manacá faz do que há de mais regional sua porta de entrada para o global. É o Brasil para o mundo, e o mundo para o Brasil, sem apelar para batucadas de gringos nem se render ao purismo totalitário das manifestações pretensamente autênticas de nossa cultura. E nunca, nunca deixa de soar Rock, com ‘R’ sonoro e maiúsculo. Um alívio para os ouvidos cansados.

Letícia Persiles, vocalista da banda Manacá, foi escolhida para protagonizar a microssérie Capitu, de Luis Fernando Carvalho, uma adaptação para a Tv do clássico Dom Casmurro, de Machado de Assis.

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